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PM cria estrutura para investigar participação de policiais em milícias no Rio

Isabela Vieira - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 11/04/2018 - 20:20
Rio de Janeiro

A Polícia Militar do Rio de Janeiro anunciou hoje (11) a criação de uma estrutura dentro da Corregedoria Interna para investigar a participação de policiais militares em milícias. 

A corporação pretende investir R$ 500 mil na estrutura, com a função de averiguar a relação de crimes cometidos por policiais militares com práticas de milicianos. Segundo levantamento interno, a corregedoria já identificou condutas criminosas, como o uso de armas irregulares, carros roubados ou furtados, mas que, isoladamente, não configuram atuação em grupos criminosos.

“O objetivo é analisar o aspecto disciplinar das condutas dos policiais militares, de acordo com o Regulamento da Corporação, e apoiar as investigações conduzidas pela Polícia Civil”, disse a PM, em nota enviada à imprensa.

A criação da nova estrutura é anunciada em meio à intervenção federal na segurança pública do estado. Há dez anos, a Comissão Parlamentar de Inquérito (I) da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro investigou a atuação de grupos paramilitares no estado e indiciou cerca de 200 pessoas na época, incluindo parlamentares.

Para o professor da Universidade Estadual do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Ignacio Cano, autor de pesquisas sobre atuação das milícias, a estrutura pode ter pouca efetividade no combate às milícias. Ele defende um “trabalho mais enérgico” das corregedorias das corporações policiais, por meio da investigação, da inteligência. “Não é preciso criar uma estrutura. É preciso atuar proativamente, investigando, por exemplo, o patrimônio de policiais”, disse. “Não é possível que um PM ganhe R$ 3 mil e tenha uma Maserati [carro] em casa”.

Outra forma eficiente de atacar esses grupos, acrescentou Cano, é sufocando suas fontes de renda: o fornecimento ilegal de serviços e a venda de drogas. Para isso, afirma, é preciso regulamentar a prestação de serviços, como o transporte alternativo e provedores de internet. “Não é só o Estado, a sociedade também tem de agir. As empresas de TV a cabo, por exemplo, precisam oferecer serviços a preços íveis para que as pessoas adiram em vez de usar o 'gatonet' [conexão irregular de serviços de tv por ]”.

No relatório da I das Milícias, de 2008, foram listadas 58 medidas para enfrentar os grupos paramilitares. Entre elas, a criação de uma Câmara de Repressão ao Crime Organizado, com a participação do Ministério Público, da Polícia Civil e do Judiciário, por exemplo, em atuação conjunta e sistemática, um plano de carreira e salários aos policiais e profissionais da segurança, aperfeiçoamento da seleção e formação, além de corregedoria externa.

Milícias

Ontem (10), o Tribunal de Justiça do Rio manteve a prisão de 159 detidos em operação da Polícia Civil contra a milícia Liga da Justiça, na zona oeste, no último sábado (7). A Defensoria Pública, no entanto, contesta o número e afirma que há no grupo pessoas que não têm envolvimento com a milícia. 

Outra ação recente de milicianos foi a chacina em Maricá, que resultou na morte de cinco jovens no fim de março. O executor foi preso na segunda-feira (9) em ação conjunta da Delegacia de Homicídios de Niterói, Itaboraí e São Gonçalo e o Ministério Público do Rio, que espera ter enfraquecido o grupo no local com a prisão de três pessoas.

Há suspeita ainda que o assassianto da vereadora Marielle Franco, há quase um mês, no centro do Rio, também tenha participação de milícias. Ela participou da I das Milícias, como assessora do deputado Marcelo Freixo, presidente da I na época, e denunciava abusos de policiais.