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Anta Jasmim é solta na Reserva Ecológica de Guapiaçu

Espécie foi considerada extinta no início do século 20
Alana Gandra - Repórter da Agência Brasil
Publicado em 29/10/2020 - 16:31
Rio de Janeiro 
Anta Jasmim é solta na Reserva Ecológica de Guapiaçu para preservação da espécie
© João Pedro Stutz/Projeto Guapiaçu/Direitos reservados

A anta Jasmim foi solta hoje (29) na Reserva Ecológica de Guapiaçu (Regua), no município fluminense de Cachoeiras de Macacu, onde ará a viver livre. Em movimento de preservação da espécie, o Zoológico de Guarulhos doou o animal para a reserva, onde desde o último mês de agosto Jasmim esteve em área de aclimatação de um hectare. A espécie chegou a ser considerada extinta no início do século 20, devido à caça predatória.

A coordenadora executiva do Projeto Guapiaçu, da Regua, Gabriela Viana, disse à Agência Brasil que Jasmim, filha das antas Antônia e Antenor, que permanecem no zoológico privado de Guarulhos, vai continuar recebendo alimentos até que aprenda a viver junto com outros animais da sua espécie Tapirus terrestris que estão vivendo nessa floresta do estado do Rio de Janeiro. “Ela já começa a descobrir alimentos na natureza que consegue buscar. A ideia é que ela aprenda a viver por si só”, disse Gabriela. O Projeto Guapiaçu vai monitorar Jasmim por meio de colar de telemetria.

Anta Jasmim é solta na Reserva Ecológica de Guapiaçu para preservação da espécie
Anta Jasmim é solta na Reserva Ecológica de Guapiaçu para preservação da espécie, por João Pedro Stutz/Projeto Guapiaçu/Direitos reservados

A equipe do Projeto Refauna, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), vai ficar acompanhando Jasmim, que terá livre o ao viveiro de aclimatação onde permaneceu nos últimos 60 dias. Gabriela informou que a equipe vai retirar aos poucos o alimento que é fornecido, para que ela não sinta nenhuma deficiência nutricional. “Ela vai se enturmar com os outros e a gente espera que tenham logo mais filhotes”, externou a coordenadora executiva do Projeto Guapiaçu.

Antas

Com Jasmim, serão 11 as antas que vivem na reserva, incluindo um bebê, que já está circulando pela região. Outra anta adulta foi atropelada à noite em uma estrada de chão entre um fragmento e outro da reserva e morreu, o que levou a prefeitura a autorizar a instalação de placas e quebra-mola no local.

Anta Jasmim é solta na Reserva Ecológica de Guapiaçu para preservação da espécie
No começo, Jasmim terá o livre ao espaço de aclimatação - João Pedro Stutz/Projeto Guapiaçu/Direitos reservados

O coordenador do programa de reintrodução de animais silvestres e professor do Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ), Maron Galliez, comentou que a reintrodução das antas em Guapiaçu estabelece a primeira população da espécie após mais de 100 anos de extinção no estado. Entretanto, por meio da parceria entre os projetos Guapiaçu, que é patrocinado pela Petrobras e pelo governo federal, e Refauna, esses animais estão voltando à natureza. A reintrodução na Reserva Ecológica de Guapiaçu teve início em 2017, com a chegada de três antas dessa espécie.

Juntos, os dois projetos visam restaurar relações ecológicas perdidas com o desaparecimento de mamíferos silvestres na Mata Atlântica. Conhecidas como “jardineiras da floresta”, as antas têm uma dieta que inclui frutas e uma enorme habilidade de dispersar sementes. Devido ao seu grande porte, necessitam de uma quantidade elevada de alimento e percorrem extensas áreas. Por isso, são capazes de semear grandes trechos, favorecendo a regeneração florestal. A longo prazo, esse movimento garante segurança hídrica e aumenta o sequestro de carbono atmosférico, combatendo o aquecimento global, informou a assessoria de imprensa do Projeto Guapiaçu.

As antas são animais herbívoros que comem entre oito e nove quilos de alimento por dia, incluindo folhas, ramos, brotos, caules, cascas de árvores, plantas aquáticas e frutos, e respondem pela manutenção da biodiversidade. Livres na natureza, elas vivem, em média, entre 20 e 25 anos. Em cativeiro, há registro de animais da espécie com mais de 35 anos de idade. A anta é o maior mamífero terrestre da América do Sul, pesa entre 180 e 300 quilos e chega a medir até dois metros de comprimento.

Atribuições

Gabriela Viana informou que a Regua entra com a área de floresta para os animais, o Refauna se encarrega da tarefa de reintrodução, enquanto o Guapiaçu cuida do transporte e monitoramento. “Quando elas chegam na Regua, nós apoiamos com os colares de telemetria e as câmeras que permitem ver onde as antas estão andando”, explicou. Segundo a coordenadora, o desafio agora é mostrar para as crianças e jovens que elas também devem cuidar dos animais e do planeta.

Os pesquisadores desejam transportar mais antas em breve para a floresta, de modo a estabelecer uma população considerável desses animais que possam, com o tempo, se dispersar para o vizinho Parque Estadual dos Três Picos e outras áreas adjacentes, de modo a colonizar a região mais densamente florestada do estado, que é o Mosaico da Mata Atlântica Central Fluminense.

Os projetos

O Projeto Guapiaçu é realizado pela Reserva Ecológica de Guapiaçu e objetiva o fortalecimento do ecossistema da bacia Guapi-Macacu. Por meio das ações de restauração florestal, reintrodução de fauna, educação ambiental e monitoramento da água, o projeto demonstra a relação entre a restauração ecológica e o serviço de provisão de água de qualidade na bacia hidrográfica. O projeto já atingiu mais de 26 mil pessoas com atividades de educação ambiental e restaurou 160 hectares de áreas degradadas, com o plantio de 300 mil mudas de espécies nativas da Mata Atlântica.

Já o Projeto Refauna, iniciado em 2010, tem como meta principal reintroduzir populações de espécies em locais onde elas foram perdidas e, assim, restaurar processos ecológicos. O projeto é uma colaboração entre pesquisadores do Laboratório de Ecologia e Conservação de Populações da UFRJ, do Laboratório de Ecologia e Conservação de Florestas da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), do Laboratório de Ecologia e Manejo de Animais Silvestres do IFRJ, Parque Nacional da Tijuca (ICMBio), Fiocruz e Centro de Primatologia do Instituto Estadual do Ambiente (INEA).