Sonora Lucas: “O dever mais difícil pra você, qual é? – Matemática. Tem muitas contas pra resolver? – Sempre.”
Lucas Braga, de cinco anos de idade, não é o único que tem medo da Matemática. Só de pensar em números, fórmulas e contas, muita gente fica de cabelo em pé. Tem até aqueles que inventam uma nova tabuada...
Sonora:
“– 1 + 5.
– 1 + 5?
– É.
– Eu tenho 5, + 1 né?
– É.
– Eu tiro 1, fico com 15!
– Acertô, pivete...”
O vídeo do menino que erra todas as contas de matemática virou sucesso na internet. Na vida real, somar, subtrair ou dividir podem se tornar verdadeiros desafios, principalmente para crianças na fase da alfabetização. E as tarefas são ainda mais difíceis para pessoas com deficiência.
Por isso, coordenadores do curso de Licenciatura em Matemática da USP, Universidade de São Paulo, criaram uma disciplina optativa que orienta o futuro professor a desenvolver conteúdos escolares para estudantes com necessidades especiais.
A disciplina é oferecida desde 2012 durante UM semestre no ano. Segundo a professora Miriam Utsumi, pesquisadora do ICMC, Instituto de Ciências Matemáticas e de Computação da USP, quase CINQUENTA alunos já aram pela capacitação. Ela explica como o conteúdo é ensinado.
Sonora Miriam: “Primeiro a gente faz um panorama da inclusão no Brasil e em outros países. Depois, a gente examina a legislação, a gente também faz um estudo sobre aqueles materiais que estão disponíveis na página do MEC. A disciplina não vai ensinar ninguém uma superpreparação para trabalhar com isso, é mais para despertar a sensibilidade deles enquanto professores de que o ensino da matemática é para todas as pessoas, e esses alunos são alunos que também conseguem aprender, desde que eles tenham atividades adequadas.”
Bruna Gargarela, de 20 anos de idade, está no quinto semestre de Matemática. Ela aplica aquilo que aprende na sala de aula com o aluno Lucas de Oliveira, de oito anos, que tem Síndrome de Down.
Sonora Bruna: “Todas as discussões que a gente faz dentro da sala de aula facilitam o modo como eu vou interagir com o Lucas. Como ele tem deficiência mental, essas atividades, que a gente já discutiu em sala, têm que ser repetitivas, porque ele aprende por repetição. Então é assim que eu estou tentando aplicar as atividades com ele, umas atividades repetitivas que consigam cativar e prender a atenção dele.”
Joice Obata, que também estuda matemática na USP, tem deficiência auditiva, e quer ajudar os futuros alunos a superarem as dificuldades que ela enfrentou. Com a ajuda da mãe, Joice foi oralizada desde pequena, e inclusive concedeu entrevista por meio de um aplicativo no celular. Para ela, a barreira das diferenças precisa ser rompida para dar lugar à inclusão.
Sonora Joice: “Eu pude mostrar que a gente, mesmo tendo deficiência, é possível a gente ter autonomia. Desde cedo, desde os cinco anos eu uso minha prótese auditiva, e faço leitura labial. O professor tem que estar preparado para lidar com alunos que tenham deficiência. Se ele souber que eu tenho uma deficiência auditiva, pequenos atos ajudam no dia-a-dia da escola.”
Em 2001, o CNE, Conselho Nacional de Educação, estabeleceu uma regra que obriga as escolas de ensino regular a aceitarem todos os alunos, tendo ou não necessidades especiais. No entanto, para a representante da comissão de defesa da pessoa com deficiência da Ordem dos Advogados do Brasil no Distrito Federal, Olívia Danielle, faltam preparo e infraestrutura.
Sonora Olivia: “As crianças hoje podem sofrer algum bullying na escola e com isso não querem mais voltar pra lá. Ou, às vezes, as escolas não querem aceitar essas crianças no seu quadro de alunos, encontram resistência. Também não tem profissionais qualificados para poder atender essas crianças e para dar a educação adequada.”
Segundo o Ministério da Educação, quase 650 mil alunos com deficiência visual, auditiva, física ou transtornos globais do desenvolvimento estudam em classes comuns da educação básica em mais de cinco mil municípios brasileiros. Na educação superior são 30 mil estudantes matriculados em cursos de graduação. Assim como o Lucas, que tem Síndrome de Down, essas crianças podem ter o a um ensino especializado. Para isso, as instituições precisam capacitar futuros professores, como a USP prepara a Bruna no ensino da matemática.
Sonora Bruna: “O que eu estou fazendo com ele, eu espero que ajude muito ele no futuro. Porque eu acredito que, o que eu estou ensinando pra ele não é uma matemática para a escola, mas uma matemática pra vida, pra ele conseguir ter autonomia.”





